sexta-feira, 18 de junho de 2010

Doação . Dôa . Doá

Invejo o homem que questiona o único poder
Verdadeiro do mundo. Invejo o homem que dá o que não tem.
Sim(!), o que não tem. Isso só pode ser dado pelo homem
Que nega uma divindade (como todas) escravizadora
E usurpadora. Falo do divino dinheiro. Santos cifrões!

Fácil para mim distribuir comida: estou bem alimentado.
Fácil doar roupas: não sinto frio.
Fácil doar brinquedo velho: já me diverti o suficiente com ele.

Agora, se passasse (se) fome, daria comida para
Outro esfomeado? Passaria frio negando a roupa
Que não tivesse? Seria feliz ao abrir mão do brinquedo, alegria
Alheia?

Nisto, pelo menos, não sou hipócrita: a resposta é NÃO!
E ponho-me em prantos.
Deus, se você existe, ouça esta oração* calada e miúda: permita-me negar
A divindade. Todas elas, tudo bem?
Toda essa adoração faz-me
pequeno,
mata-me,
por dentro.
cansei!

que assim seja.
(fiz certo?)


*Sim, sou hipócrita de quando em quando.

domingo, 13 de junho de 2010

Crime: assassinato - Arma: palavra - Local do crime: corpo - Causa mortis: desconhecida pela ciência

Ô mãe!

Fala, filho!

Posso falar?

Falar o que, filho?

Num sei! É aí que está...

Está o quê, menino?

Num sei também. Acho que é o problema.

Problema? Qual problema?

O do tamanho das palavras! Elas são pequenas de mais para tudo aquilo que quero dizer. Tão pequenas que eu acabo nem sabendo quê quero dizer. É que isso não cabe em palavras, entende?
Meu corpo, ele é maior que toda essa coisa fedida chamada homem, mãe! Não, não o corpo. EU! EU sou maior que isso.. Sou tão grande que nem sei quê sou.
Ser homem falante me mata, mãe. Talvez a morte deste corpo me permita grande, não sei...

Ai, meu Deus! Você vai se matar?

Nossa, mãe! É isso que você tira do que te falei?

Por quê? Não é isso?

(PORRA DE MULHER IGNORANTE!)
Não, mãe, não é isso...

Ah, então tá bom... Que susto você me deu, menino!
(Ainda acho que ele vai se matar... Depois eu ligo pra Arlete e vejo quê que ela pensa...)

(Nada tá bom... Nada tá bom...)
É, tá bom, mãe. Tá bom...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

sobre a literalidade e tantas outras coisas

Meu travesseiro tem escritos
que sempre deixo alinhados.
Claro! Se ficarem ao contrário,
terei sonhos de cabeça para baixo.

Se bem que travesseiros sempre colocam
a cabeça para cima, né?

...

Literalidade é uma bosta!
Matou o poema que mal começou a nascer.
E esse ia ser dos bons...
Saco!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

céu minúsculo

sinto como se os pássaros
zombassem de mim:
passam pelos ares
gozando o vôo que, sabem,
nunca terei.

criança, desejo pegar o
céu. tudo me parece tão
fofo e azul! ah, um dia pego. oh, se pego!
pego e mordo, rasgo, acaricio:
   jógo um jôgo
   de acentuar o vento.
sempre que vejo o céu
(mas quando vejo de verdade: visão de infante)
sonho em esticar a mão e apertar um
pedacinho daquela maravilha.

e aí, no meio do delírio do alcance
me rasgam a vista os pássaros. indolentes!
não invejo homens e suas posses
brilhantes, ou suas mentes gigantes,
ou suas eloqüências falantes. invejo,
sim, pássaros.

terça-feira, 8 de junho de 2010

outro para duas horas de leitura

A verdade da arte é
sustentada na mentira da vida.

Oras, mas a arte não é criada no entendimento da vida?

Não! A vida é que
interpreta,
entende,
estraga,
a arte.

domingo, 6 de junho de 2010

antigo/novo

Coleção de textos confusos,
sem nenhuma ligação uns com os outros? Ah,
é tudo livremente editado por
várias pessoas? Os textos são
de confiabilidade duvidosa?

Wikipedia, sinto dizer: você
é apenas uma cópia da bíblia,
com outros temas...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Medo

Não entrar na briga pelo amor:
eis o desejo. Poder amar sem
limites, sem tempo. Amar de verdade:
amor não disputa, amor não age -
amor ama.

O medo é simples: ouvir que está com ele.
Não há problema! Também está - sempre esteve
- comigo. Não ouse fingir o contrário.
Por favor, não ouse.

E, talvez mais importante ainda, não abra mão do
resto. Não fuja de mim, e não escape deles, nem delas.
Seja completa, pois assim te amo. E, se o resto discordar,
lembre-se: "uma coisa é gostar, outra é amar.
Bem longe delas está o dominar."

Pelo menos é isso que penso.