O cheiro de antes
me passa, maldito seja.
A lágrima quase escorre, anunciando a dor
que nunca deixei de ser alegre.
O perfume dos risos e desejos,
ao voltar, anestesia. Quê fazer? Deixar
que me deixe ficar, talvez. Jogar-me
no tempo que todos dizem e
não cura (a ferida que não posso curada): queima. Eis outra opção.
II (o exorcismo)
Assim como não tratamos um Demônio, não
direi nomes, Letícia. Temo exorcisar-me de mim.
Os medos com nome somem mais facilmente.
Não quero que suma, Letícia. Não te direi o nome, Letícia!
Como memória, a voz de Cristo ordena, fique neste corpo,
Letícia!
E basta deste paradoxo por hoje.
domingo, 30 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Arquitetura (versão pessimista)
I
Os telhados, ao cobrirem casas,
cobrem muito mais que vidas.
(?!)
II
Em sincronia crescem:
a tonta vergonha humana;
o número de paredes e barreiras nos banheiros públicos.
III
O elemento mais poético da casa
é, sem dúvida alguma, a porta.
Abre-se e fecha-se.
Pessoas entram, pessoas saem,
pessoas ficam do lado de fora
passando fome
(é, ninguém pensa nelas).
A porta é linda.
(?!)
IV (mas eu prefiro IIII)
Janelas foram feitas para serem
abertas. É preciso permitir que o
mundo passe por elas.
Mas, se o esfomeado passar na sua frente,
feche-a. Não queremos nem a imagem disso dentro de casa.
V (IIIII)
Sabe, costumo ter nojo de ser
esta coisa cerumenta
chamada ser-humano.
Quero ser louco(!):
uma casa sem telhado, com banheiros sem paredes,
portas sempre abertas, e janelas sempre
ridiculamente arregaçadas.
Os telhados, ao cobrirem casas,
cobrem muito mais que vidas.
(?!)
II
Em sincronia crescem:
a tonta vergonha humana;
o número de paredes e barreiras nos banheiros públicos.
III
O elemento mais poético da casa
é, sem dúvida alguma, a porta.
Abre-se e fecha-se.
Pessoas entram, pessoas saem,
pessoas ficam do lado de fora
passando fome
(é, ninguém pensa nelas).
A porta é linda.
(?!)
IV (mas eu prefiro IIII)
Janelas foram feitas para serem
abertas. É preciso permitir que o
mundo passe por elas.
Mas, se o esfomeado passar na sua frente,
feche-a. Não queremos nem a imagem disso dentro de casa.
V (IIIII)
Sabe, costumo ter nojo de ser
esta coisa cerumenta
chamada ser-humano.
Quero ser louco(!):
uma casa sem telhado, com banheiros sem paredes,
portas sempre abertas, e janelas sempre
ridiculamente arregaçadas.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Cidade Grande
Não raro, me acontece uma cena fascinante que merece ser contada. Tendo um espírito metido a poeta, do tipo que não se contenta com o simples, estou sempre me "espantando diante do banal", como diria Rubem Alves. Segundo este homem maravilhoso, quem tem esta capacidade são as crianças. E, isso quem diz sou eu, todo poeta é uma criança. (Pensando bem, essa última frase é tão óbvia que já deve ter sido dita por outro alguém... Mas eu desconheço. Continuando.)
Pois bem, nessa de me espantar diante do banal, estou sempre exclamando pela rua: "Olha, que flor linda."; "Cacete, que pôr-do-Sol maravilhoso!"; "Nossa, olha a vista que tem aqui..."; "Haha, que engraçado este inseto.", e por aí vai. A cena interessante que comentei é essa: sempre que faço isso, sou confrontado com a fala: "Tinha de ser da cidade grande!". Fascinante, não? Nessas, acabo sempre me esquecendo da coisa que comentava, e começo a sentir pena da pessoa que deu essa resposta... A coitada - eufemismo pra fudida - da pessoa simplesmente não consegue ver a beleza que eu vejo. Pobrezinha!
Agora, cá entre nós, sabe o que eu tenho vontade de responder quando isso acontece? Sinto uma enorme vontade de falar: "É, cresci na cidade grande mesmo. Mas, maior ainda, muito maior que qualquer cidade grande, é o que carrego aqui dentro; é a vida para qual devo satisfações; é meu desejo de alegria; é a ridícula, imensa, beleza desta coisinha banal do interior." Não falo porque sei que isso ofenderia a pessoa. Ela pensaria que, se eu me digo grande por ver algo que ela não vê, ela é pequena. E ninguém gosta de ser lembrado sobre o quão pequeno realmente é... E o pior é que somos, na verdade, muito pequenos.
Sonho com um mundo onde minhas exclamações de espanto pudessem render horas e horas de conversas tontas sobre coisas tontas. E isso tudo seria maravilhoso. Mas não: o tonto é tonto, ponto final.
C'est la vie.Ou, pelo menos, o que fizeram dela.
É pena...
Pois bem, nessa de me espantar diante do banal, estou sempre exclamando pela rua: "Olha, que flor linda."; "Cacete, que pôr-do-Sol maravilhoso!"; "Nossa, olha a vista que tem aqui..."; "Haha, que engraçado este inseto.", e por aí vai. A cena interessante que comentei é essa: sempre que faço isso, sou confrontado com a fala: "Tinha de ser da cidade grande!". Fascinante, não? Nessas, acabo sempre me esquecendo da coisa que comentava, e começo a sentir pena da pessoa que deu essa resposta... A coitada - eufemismo pra fudida - da pessoa simplesmente não consegue ver a beleza que eu vejo. Pobrezinha!
Agora, cá entre nós, sabe o que eu tenho vontade de responder quando isso acontece? Sinto uma enorme vontade de falar: "É, cresci na cidade grande mesmo. Mas, maior ainda, muito maior que qualquer cidade grande, é o que carrego aqui dentro; é a vida para qual devo satisfações; é meu desejo de alegria; é a ridícula, imensa, beleza desta coisinha banal do interior." Não falo porque sei que isso ofenderia a pessoa. Ela pensaria que, se eu me digo grande por ver algo que ela não vê, ela é pequena. E ninguém gosta de ser lembrado sobre o quão pequeno realmente é... E o pior é que somos, na verdade, muito pequenos.
Sonho com um mundo onde minhas exclamações de espanto pudessem render horas e horas de conversas tontas sobre coisas tontas. E isso tudo seria maravilhoso. Mas não: o tonto é tonto, ponto final.
C'est la vie.Ou, pelo menos, o que fizeram dela.
É pena...
terça-feira, 25 de maio de 2010
la vie en rose
é importante entender que
não importa quê venha a acontecer
seremos sempre prostitutos de nós mesmos
sábado, 22 de maio de 2010
Copos
E os copos levantam.
O dia começa, ainda é
cedo: há homens nas ruas,
e os copos.
E os copos levantam.
Com café e talvez leite,
uns estão mais inclinados que outros,
e os copos.
E os copos levantam.
O trabalho espera enquanto a cama chama:
é preciso energia para suportar a vida,
e os copos.
E os copos levantam.
Estão pelas padarias,
estão pelos bares,
estão pelos botecos.
Não estão na mesa dos ricos:
ainda dormem,
e os copos.
E os copos levantam.
Bom dia, São Paulo!
Levanto meu copo com você.
O dia começa, ainda é
cedo: há homens nas ruas,
e os copos.
E os copos levantam.
Com café e talvez leite,
uns estão mais inclinados que outros,
e os copos.
E os copos levantam.
O trabalho espera enquanto a cama chama:
é preciso energia para suportar a vida,
e os copos.
E os copos levantam.
Estão pelas padarias,
estão pelos bares,
estão pelos botecos.
Não estão na mesa dos ricos:
ainda dormem,
e os copos.
E os copos levantam.
Bom dia, São Paulo!
Levanto meu copo com você.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Cotidiano 3
Ele não dá conta
nem do que tem em casa,
cê acha que ele ia ter arrumado
uma amante...
Magine!
Oxe...
nem do que tem em casa,
cê acha que ele ia ter arrumado
uma amante...
Magine!
Oxe...
segunda-feira, 17 de maio de 2010
uma qualquer
Uma maravilha fora do comum, acho que finalmente
entendi o conceito de beleza interior.
Mas não é interior! Grita por todo seu ser
a coisa linda que é.
As mãos calejadas, os olhos doídos,
as pernas gastas, os cabelos sujos.
E ri, e canta, e samba, e cria,
e vive, e ama, e vibra, e transa.
Ô cacete de mulher bonita(!)
esta
que passou por mim
hoje.
As mãos calejadas, os olhos doídos,
as pernas gastas, os cabelos sujos.
E ri, e canta, e samba, e cria,
e vive, e ama, e vibra, e transa.
Ô cacete de mulher bonita(!)
esta
que passou por mim
hoje.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
sobre o Tamanho, os Passos, a Existência, o Corpo e o Sapato
I
Passos duros e largos
levam o corpo ao longe, sem
saber onde chegar.
O corpo é grande demais, tão
grande que não caibo em mim.
O corpo é pequeno demais, tão
pequeno que em mim não cabe.
É hora de viver! Morte, aproxime-se!
Sim, morte: é por medo dela
que apenas existimos com nossos passos
duros e largos, mas não sabemos onde chegar
com a pequena grandeza do corpo.
Cansei de existir.
Que venha a morte!
Agora, quero viver.
II
Vivemos assim como temos sapatos: sempre
evitando a falta.
Por pensar no preço do sapato, fingimos não saber
que a única razão de vida dele é ser andado até seu fim. Evitamos
o barro, evitamos o roubo, evitamos a chuva, evitamos o corte, evitamos o desgaste.
Quando nos damos conta, o tempo passou e o sapato não foi nem meio andado.
Isomericamente, fingimos não saber
que a única razão (natural) de nossa vida é viver.
Economizamos a sola de nosso ser:
pomos a vida em caixas e evitamos
o barro, evitamos o roubo, evitamos a chuva, evitamos o corte, evitamos o desgaste.
Quando nos damos conta, morremos sem termos vivido.
III
Cansei de existir.
Que venha a morte!
Agora, quero viver.
Passos duros e largos
levam o corpo ao longe, sem
saber onde chegar.
O corpo é grande demais, tão
grande que não caibo em mim.
O corpo é pequeno demais, tão
pequeno que em mim não cabe.
É hora de viver! Morte, aproxime-se!
Sim, morte: é por medo dela
que apenas existimos com nossos passos
duros e largos, mas não sabemos onde chegar
com a pequena grandeza do corpo.
Cansei de existir.
Que venha a morte!
Agora, quero viver.
II
Vivemos assim como temos sapatos: sempre
evitando a falta.
Por pensar no preço do sapato, fingimos não saber
que a única razão de vida dele é ser andado até seu fim. Evitamos
o barro, evitamos o roubo, evitamos a chuva, evitamos o corte, evitamos o desgaste.
Quando nos damos conta, o tempo passou e o sapato não foi nem meio andado.
Isomericamente, fingimos não saber
que a única razão (natural) de nossa vida é viver.
Economizamos a sola de nosso ser:
pomos a vida em caixas e evitamos
o barro, evitamos o roubo, evitamos a chuva, evitamos o corte, evitamos o desgaste.
Quando nos damos conta, morremos sem termos vivido.
III
Cansei de existir.
Que venha a morte!
Agora, quero viver.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
pisar na grama
Quando andamos, muitas vezes acontece, a
calçada vira à esquerda, mas queremos ir em frente.
Quando sabemos onde queremos chegar, é
preciso que aceitemos, acabaremos pisando na grama.
Que Deus nos desculpe, mas pisaremos...
Comme ça, c'est la vie, mon ami.
Escola
Quando o dia chato acaba, e
o travesseiro beija a nuca,
só o que me sobra é
o eduçacão que recebi na escola.
A vida é tédiosa? Agradeça,
com muito carinho, a todos
os seus educadores.
Agora, se o dia foi legal, não duvide:
hoje, hoje não teve aula.
o travesseiro beija a nuca,
só o que me sobra é
o eduçacão que recebi na escola.
A vida é tédiosa? Agradeça,
com muito carinho, a todos
os seus educadores.
Agora, se o dia foi legal, não duvide:
hoje, hoje não teve aula.
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