I
Passos duros e largos
levam o corpo ao longe, sem
saber onde chegar.
O corpo é grande demais, tão
grande que não caibo em mim.
O corpo é pequeno demais, tão
pequeno que em mim não cabe.
É hora de viver! Morte, aproxime-se!
Sim, morte: é por medo dela
que apenas existimos com nossos passos
duros e largos, mas não sabemos onde chegar
com a pequena grandeza do corpo.
Cansei de existir.
Que venha a morte!
Agora, quero viver.
II
Vivemos assim como temos sapatos: sempre
evitando a falta.
Por pensar no preço do sapato, fingimos não saber
que a única razão de vida dele é ser andado até seu fim. Evitamos
o barro, evitamos o roubo, evitamos a chuva, evitamos o corte, evitamos o desgaste.
Quando nos damos conta, o tempo passou e o sapato não foi nem meio andado.
Isomericamente, fingimos não saber
que a única razão (natural) de nossa vida é viver.
Economizamos a sola de nosso ser:
pomos a vida em caixas e evitamos
o barro, evitamos o roubo, evitamos a chuva, evitamos o corte, evitamos o desgaste.
Quando nos damos conta, morremos sem termos vivido.
III
Cansei de existir.
Que venha a morte!
Agora, quero viver.
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