quarta-feira, 26 de maio de 2010

Cidade Grande

Não raro, me acontece uma cena fascinante que merece ser contada. Tendo um espírito metido a poeta, do tipo que não se contenta com o simples, estou sempre me "espantando diante do banal", como diria Rubem Alves. Segundo este homem maravilhoso, quem tem esta capacidade são as crianças. E, isso quem diz sou eu, todo poeta é uma criança. (Pensando bem, essa última frase é tão óbvia que já deve ter sido dita por outro alguém... Mas eu desconheço. Continuando.)

Pois bem, nessa de me espantar diante do banal, estou sempre exclamando pela rua: "Olha, que flor linda."; "Cacete, que pôr-do-Sol maravilhoso!"; "Nossa, olha a vista que tem aqui..."; "Haha, que engraçado este inseto.", e por aí vai. A cena interessante que comentei é essa: sempre que faço isso, sou confrontado com a fala: "Tinha de ser da cidade grande!". Fascinante, não? Nessas, acabo sempre me esquecendo da coisa que comentava, e começo a sentir pena da pessoa que deu essa resposta... A coitada - eufemismo pra fudida - da pessoa simplesmente não consegue ver a beleza que eu vejo. Pobrezinha!

Agora, cá entre nós, sabe o que eu tenho vontade de responder quando isso acontece? Sinto uma enorme vontade de falar: "É, cresci na cidade grande mesmo. Mas, maior ainda, muito maior que qualquer cidade grande, é o que carrego aqui dentro; é a vida para qual devo satisfações; é meu desejo de alegria; é a ridícula, imensa, beleza desta coisinha banal do interior." Não falo porque sei que isso ofenderia a pessoa. Ela pensaria que, se eu me digo grande por ver algo que ela não vê, ela é pequena. E ninguém gosta de ser lembrado sobre o quão pequeno realmente é... E o pior é que somos, na verdade, muito pequenos.

Sonho com um mundo onde minhas exclamações de espanto pudessem render horas e horas de conversas tontas sobre coisas tontas. E isso tudo seria maravilhoso. Mas não: o tonto é tonto, ponto final.

C'est la vie.Ou, pelo menos, o que fizeram dela.

É pena...

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