sexta-feira, 8 de novembro de 2024

da faxina e da alma

hoje faxinei a casa.
subi na escada,
cuidei dos armários.

no chão, aspirador;
nos móveis, lustrador;
nos cantos, espanador;
na privada, esterelizador;
nas mesas, removedor.
ufa, terminei.

que ódio.
quanto ódio.
todo o ódio do mundo senti
ao ver a louça suja na pia.
quer dizer, então,
que de nada vale o ter faxinado?
de nada adianta o esforço da limpeza?

ah, coração. chore. 
chore todo o ódio que carrega.
Sim.
há que se viver a vida a faxinar a casa,
a desorganizar tudo,
a colocar tudo abaixo,
para a correta limpeza
que nunca termina.

louça. 
sempre haverá louça.
sempre haverá a lembrança de que 
quanto mais se limpa,
mais há que se limpar.
e não há problema nisso.
há, isso sim, oportunidade.

lavar cérebro na água quente,
com detergente e esponja grossa,
até alisar as rugas da tensão
que carrego na pele.
até fazer sangrar a mãe terna
que habita em mim.

se as estrias vivem a acumular sujeira,
na eterna desorganização dos sistemas 
a buscar o caos,
só me resta por os montes a derreter,
desorganizar ainda mais o sistema
buscando fazer do caos território de criação.

criação de cuidado
que sabe pouco e, por isso mesmo,
suficiente.

criação de calma
que sabe passageira e, por isso mesmo,
irritante.

criação de limpeza
que sabe inútil e, por isso mesmo,
necessária.

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