dizem que os monstros rapidamente morrem
quando têm nomes. sei o nome do meu:
nasci sem pele.
enquanto me querem
vestido; enquanto me querem
coberto,
nasci sem pele.
grande dúvida da natureza,
e para meu próprio espanto,
hoje entendo:
nasci sem pele.
ao incômodo da ciência e da medicina,
me oferecem escamas, couros, outras peles. mas
nasci sem pele.
bobagem! se tentam
me vestir; se tentam
me cobrir, lembro que
nasci sem pele.
não tenho
começo; não tenho
fim: dissolvo-me na terra.
nasci sem pele.
para o inconformismo da ordem, não vivo
sem. transbordo-me em não ter bordas.
quem quer a pele não sou eu. querem-na
por mim. afinal,
nasci sem pele.
a mim nada falta. porque
vivo. se aos olhos do mundo vivo sem pele,
é porque o mundo agarra-se em ter peles.
de minha parte, simplesmente
nasci sem pele.
não padeço. não me troco.
sigo a vida a não reconhecer bordas. isso porque
apenas nasci.
sem pele.
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