sexta-feira, 6 de setembro de 2019

sobre o bulbo (e sob o céu)

há uma família de pássaros
que pousa junto
à minha flor do deserto.

de pássaros, veja só.

e não são pássaros quaisquer
(porque, insisto,
não há nada que seja qualquer):
são pássaros azuis.

insatisfeitos de possuírem as nuvens
por sob suas asas;
desejantes de mais do que o vento
por entre suas penas;
são pássaros que carregam, por dentro e por fora,
a marca dos céus onde vivem.

e justamente estes pássaros,
donos da liberdade,
identificados pela cor do próprio espaço em que exercem suas seritudes
elegeram a minha flor do deserto (e não outra!)
como ponto de pousada.

talvez jamais saiba
como regar
uma flor
do deserto.

talvez baste que ela esteja disponível
à pousada de pássaros azuis
que venham passar alguns furtivos instantes junto à sua sombra
para repousar seus peitos, transbordantes de não haver territórios...

"a vida é a arte do encontro",
disse o poeta.

será possível existir arte além de
pássaros azuis
a encontrar em minha flor
do deserto
um ponto de pousada?


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