sexta-feira, 5 de novembro de 2010

a hora da estrela

Cabelos eram poucos
naquela cabeça redonda.
Ficaram presos nos anos,
não puderam chegar aqui.
(amen)

As calças eram cinzas,
claramente puídas pelos mesmos anos dos cabelos.
Não pude ver a camisa.
O costume era vermelho,
saudoso dos tempos de bailes
de cores escandalosas.
(amen)

Sapatos? Ha, sapatos!
Quê importam os sapatos
na hora da morte?
(amen)

No fim da ponte da Loefgreen,
sozinho e parado, estava
este senhor.
(amen)

Esperava por algo, talvez.
Devia estar esperando pela amada,
claramente ficada nos anos dos cabelos e das calças e do costume.
(amen)

Finalmente, cansa-se de esperar:
olha pra lá,
olha pra cá - não vem nada -
atravessa.
(amen, amen)

De repente, o ônibus vira a esquina.
As pernas não aguentam a iminência do futuro.
(amen, amen, amen)

E tudo acaba num grande, estrondoso, assustador e cruel
PA.
(amen, não adianta mais)

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