quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Confissão de meus pecados

Senhor Juiz,

Hoje, por volta das nove (9) horas do período matutino, cometi um crime da maior gravidade. Escrevo este bilhete/confissão para que os fatos sejam narrados por quem estava lá, de tal sorte que tentarei colocá-los o mais fielmente possível.

Não é sem vergonha, fique claro, que assumo: eu matei um poema. Tive como arma do crime uma borracha FB Max, que esfreguei freneticamente contra aquela vida até que não houvesse mais o menor vestígio de sua existência.

Motivos? Tive aos montes... o poema não era verdadeiro; não dizia aquilo que fora feito para dizer; nem título tinha!

Arrependimentos? Agora os tenho. Como fui louco de culpá-lo por sua deficiência? Como pude negá-lo o direito à vida? Nem mesmo permiti que fosse lido por alguém! Crápula que sou, nem me atrevo a pedir perdão a Deus. Não seria digno de perdão após tamanho delito. Irei ao inferno e não reclamarei. Só espero encontrar meu amigo poema no caminho, para que possa dizer-lhe o quanto me arrependo.

Porém, enquanto isto não me acontece, quero saber: qual será minha pena na lei dos homens? Como terei que pagar por ter agido de forma tão impensada que acabou no derramamento de látex inocente? Duma coisa tenho certeza: preciso ser preso. Não sou confiável o bastante para viver na sociedade. Sou um perigo grande demais para a humanidade. Já imaginou? Um matador de poemas solto no mundo! Que absurdo, meu Deus.

Por favor, caro Juiz, seja severo comigo. Não esqueça a gravidade do meu crime: eu matei um poema.

Aguardando minha sentença,
Daniel Nascimento.

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