quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

enfim o fim e no fim enfim sós

porque mesmo que sejamos
cinco os dedos das mãos continuamos
sendo únicos e sozinhos em nossa
existência

sábado, 25 de dezembro de 2010

a oração do ateu

I
Nove meses.

Passaram-se Nove meses.

Há dois mil e dez anos e Nove meses,
diz a estória, um anjo
veio à terra, engravidar uma virgem.
Há Nove meses,
lembro-me bem, o natal
passou a ser estranho pra mim.

Dia vinte e cinco de março: nasceu uma lenda;
morreu minha vó.

Dia vinte e cinco de dezembro: a lenda foi parida;
Há Nove meses, morreu minha vó.

II
Em uma oração a deus, uma prima
lembra à família como minha vó gostava do natal,
a importância que sempre deu à data.

No meu canto, em silêncio,
choro por concordar com a observação
(e por não entender mais tanta coisa).

III
Muito mais do que encontrar
a alegria em datas,
fiz minha oração.

Vovó, em seu nome,
tomei um sorvete de creme,
e vesti-me de papai-noel.
Amem
(Ou "que assim seja", como você preferia).

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

questões de tempo (e espaço)

E se o pé dorme, mãe?
Por quê não dormimos junto?

Sabe, mãe, eu não consigo entender
tanta coisa! Mas a coisa que eu menos
entendo é o tempo. O tempo não: o relógio.

O treco fica girando e girando e girando e não para.
(Se para, trocamos a pilha em desrespeito à morte do coitado.)
Dependendo da posição dos ponteiros, eu tenho que acordar ou dormir
ou tomar banho ou café ou almoçar ou estudar ou brincar ou cuidar da Lady...

Mas e quando o pé dorme, mãe? Eu preferia obedecer meu pé que os
ponteiros, entende? Acho que meu pé me conhece melhor que os
ponteiros. E, afinal de contas, quê diabos é um ponteiro
pra mandar em mim?! Até hoje num fui
nem apresentado pro safado!

Vix, mas olha a hora.
Já passa das 10.
O relógio quer
que eu vá
dormir.

Boa n
oit
te
.

pequena sacanagem

Quando o assunto é felar,
deixe comigo:
falo mesmo.

#línguaportuguesa,teamo

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

conversas entre eu e eu

E se eu disser que te amo?
Te amo, de volta.

E se eu disser que você é tudo.
Sou tudo, em troca.

E se eu disser que quero acariciar sua barriga?
Quero seu carinho, na hora.

E se eu não perguntar mais?
Fico muda.

Porque toda palavra é uma pergunta
e todo silêncio, uma resposta.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

sobre o namoro e o amor

Namorada?
Não, não pretendo ter nenhuma no momento.

É que, como amante das palavras, sei que
a sintaxe da coisa é da maior importância, e que(.)
A análise sintática do termo namorada termina
em polidezas, educações e frescuras aos montes.

Sou do tipo que, em dia de chuva,
ao lado de quem amo,
não ofereço para dividir guarda-chuva;
ao contrário, roubo o da pessoa amada e grito:
CORRE, ANIMAL!

Desculpem, mas prefiro meu amor sincero
como a mais infantil das brincadeiras de criança.

Namorada?
Não! Isso é coisa de adultos, amiga.
Vamos ali, brincar de viver (que a gente ganha mais).