domingo, 26 de setembro de 2010

Brincando

Upa! Upa, papai!
(E puxo os cabelos que faltam)
Eia! Eia, papai!

Como é gostoso lembrar
Do cheiro de teu cabelo lavado com sabonete, que sentia
Quando montava em teus ombros.

(Puxa. Não, calma. Puxa mais devagar.
Solta. Opa, corre!
Ele tá soltando muito rápido!)

Bom mesmo era deitar na tua barriga,
Enquanto "assistíamos TV". Sempre gostei
De brincar de respirar junto.

É, pai. Eia e respira, pai!
Eia e vai, que ser médico é compartilhar
A solidão num hospital, pai.

Acho que sempre quis fingir que não te
Entendia, pai, só pra mostrar interesse.
Que nem você, no diálogo do copo d'água. Lembra?

-Ô pai! Quando cê subir cê me traz água?
-Trago...
-Num é trago! É levo!

(E, sei, ríamos o silêncio de dois corações que se amam.)

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