terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

que dois médicos assinem

acordo assustado
de uma noite de pavor imenso.

então não foi verdade!
nada daquilo foi verdade!

a verdade é que estou no zoológico,
como tantas vezes(!),
a ver meu filho correndo para seus abraços!

não há mais pavor algum,
foi tudo mentira!

estamos no sofá, e ele escorrega
em sua barriga.
jamais existirá, e só eu sei,
(e só eu sei)
escorregador melhor.
que aventura!

mentira!

à mesa, você na ponta e com guardanapos, é claro,
corta o pão - dos mais moreninhos - em forma de dedinhos para ele.
o melhor quitute que se pode degustar, não há dúvidas.
(será que já começou o desenho do bibo pai e bobi filho?)

não pode ter sido verdade!

de mãos dadas passeamos, que alívio,
pelo centro de São Paulo. Foi ali que você trabalhou aquela vez, não foi?
e você conta para ele a mesma história que ouvi tantas vezes,
e não canso.

que pesadelo horrível!

na oficina brincamos e criamos,
e confiamos a ele, mesmo pequeno,
o martelo e a bigorna. talvez se machuque,
mas você está ao lado para recomendar cuidado
e levá-lo ao tanque para lavar suas mãos.

quanta calma sinto agora!

todo o torpor da pior noite da vida passa
ao ver a realidade da única falta, agora realizada:
você nina meu filho, e o coloca no berço, que fica em seu quarto.
dormirá a melhor noite de sono de sua vida
(ainda mais se fizer xixi e precisar, maravilhoso prazer,
dormir ao seu lado).


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e acordo. e a noite é verdade.

e o pesadelo segue.

e sou grato por tudo.

e lamento (como lamento!) ter sido impotente diante de seu pedido.

e lamento
especialmente
não ter visto meu filho em seus braços.

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se existe céu
(queira deus que exista)
o seu é uma oficina (com paçocas e pães de torresmo)

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