sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

ora pro nobis

fiz uma eleição: entre
  o krill
  a pedra
  e os dominós

quem venceu foi
  a Pereskia aculeata

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suportar o espinho
não (nos) é fácil
se quando venta
ou chove
tal espinho rasga
a carne

nesta seara,
quem estaria a sofrer?
  nós
  os espinhos
  o vento
  a chuva
  o rasgo
ou
  a carne

neste terrário,
de quem é o atrevimento?
  de quem cresce a rasgar-se sob o vento e a chuva
ou
  de quem sofre ao ver os rasgos

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talvez, e conjecturo sem grande prudência,
a máxima lição (a ser sentida, jamais compreendida)
seja esta:
manter-se na eterna potência do sol,
fazendo bom uso de nossos espinhos:
para rasgar nossas folhas de vez em quando,
e para fazer crescer novas folhas.

talvez, apenas talvez,
seja preciso fazer rasgar
seja preciso fazer rasgar-se
seja preciso fazer raspagens

para que as novas folhas
possam crescer.

talvez.

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santa planta, mãe deste poema,
orai por nós.

orai para que um dia tenhamos, puríssima planta,
a maravilhosa sapiência
de quem rasga-se
para produzir vida.

Um comentário:

  1. gostei do seu poema, vou compartilhar trechos dele no meu instragram em homenagem ao ora pro nobis que um dia tive e a outros que terei. grata

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