Existe um menino perto da lagoa.
Ele mora por ali.
Não sinta pena, não sinta nada.
Ele mora por ali porque quis.
Esse menino gosta de jogar.
Mas não é qualquer tipo de jogo.
Ele joga só o jogo de jogar o corpo inteiro.
Foi assim que aprendeu a brincar.
Ele tem bem uns 7 anos, talvez um pouco mais .
Desconsideremos, entretanto, sua pouca idade: ele tem um problema de gente grande.
Tanto jogou o corpo inteiro, que esqueceu que a alma e o coração estão no corpo.
E ele não entende o perigo que essa parte do jogo trás.
Às vezes, é verdade, ele joga bem.
Joga no lugar certo, e lá tem alguém pra segurar.
Quando acontece a segurança, que delícia.
É da alegria dessa seguridade que nasce tudo de bom do mundo.
Mas, não nos enganemos, outras vezes ele erra.
Joga no lugar que parece certo, mas não é.
PA!
E o menino morre um pouco (não de corpo. Só de alma e coração).
Quando isso acontece, ele volta pro lago.
Lá tudo é bonito (tem até uns barquinhos: brancos e diferentes de tudo).
Lá ele guarda as alegrias das seguridades acertadas.
Mas isso não revive a parte morta do menino.
E o menino não desiste.
Ele sempre joga de novo esse jogo de jogar tudo de si.
E sempre acha que vai acertar.
E nem sempre acerta.
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"E eu com isso?", você deve estar se perguntando.
Bem, se o menino errar mais muitas vezes, ele vai morrer.
E tudo de bom no mundo pode acabar junto dele.
E isso seria um problema.
"Bom, então fala pra ele parar!", você deve ter pensado.
Mas, aí, tem outro problema.
Se ele nunca mais jogar e acertar, nunca mais teremos coisas boas novas no mundo.
E as coisas boas, depois de um tempo, podem ir ficando ruins.
"E agora?", é a pergunta que fazemos.
Pois é, não sei.
Pro menino, a chance do bom novo compensa o risco da morte de tudo.
E o fato é que ele adora o jogo, independentemente do resultado.
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Daí, o menino continua jogando.
Eternamente, jogando.
Não importa nada: estará ele jogando.
E você, quer jogar?