sexta-feira, 26 de novembro de 2010

chegando em casa

PA! Soco no estômago,
O muro pixado pergunta:
"QUE VIDA É ESSA?".

Socorro, não sei!
Reduz, motorista!
Eu não sei como responder o muro!
Socorro!

Não deu... Desculpe, urbanismos:
Dessa vez, eu não tenho resposta pra você.

Saco...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

um desses que não devia ser publicado

I
Só mesmo o musicista pra saber que
o som que sax tem
piano não tira.

II
Há algo de sobre-
natural na música. Deixar-se entregar
ao som que existe na existência (tão breve!) do momento:
Tocar(-se).

III
Tocar uma música é ser completo,
num momento ondular como a vida
in-completa que vivemos.
O fato é que, lembremos, o toque
é sempre
mútuo.

III
Tocar uma música é algo
breve que dói
E sorri
E chora
E morre
E brinca
E...
ah, chega de filosofia!
Vou ali tocar alguma coisa.

?

§@b€, @çh0 qµ€ ƒ@£7@
à p0€§¡@ µm@§ ƒ0rm@§ n0v@§
þ€ þ¡2€r 0 v€£h0.


#jµ§7§@¡n'

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

receita musical

É preciso viver como se toca
uma música romancista:
abusando de rubattos, mas
mantendo o metrônomo em 60bpm.

discussão ideológica entre dois poetas que vivem juntos mas escrevem separados

Se eu acho que falta poesia concreta no mundo?
Acho.

Se eu pretendo dar minha colaboração para corrigir tal falha?
Não.

Por quê não?
Pelo quê d'eu não querer.

Se eu sou sempre assim chato?
Usualmente, sim.

Por que eu não mudo?
Na boa, porque
F
Fo
Fod
Foda
Foda-
Foda-s
Foda-se
não dá um pênis, e não tenho outra resposta pra você.

(Se Gil Vicente pôde, eu também posso! Nem pense em dizer que esse poema é ruim.)

sábado, 20 de novembro de 2010

questões gramaticais

Ha! Ironia singular!
Um caminhão cegonha carregado bateu num carro.
Isso é, no mínimo, um acidente metalingüístico...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

alergia a frutos de rio / intolerância à lactose

I
Hoje o natal é lágrima,
Vó.
Queria e precisava dizer,
Vó.

Pelas frestas dos dedos ruem
mãos que antes seguravam-se.
Maldita seja, cidade de peixes!
MALDITA!

Hoje, Vó, hoje o natal é lágrima.

II
Se existe céu
(queira deus que exista)
O seu é feito de sorvete (e piruetas de bailarina).

Meu maior problema não é o leite,
Sabe, Vó?
Leite sempre me faltou.
Mas, sorvete?
Cacete de vida, sorvete era a única
Coisa de Vó que eu ainda tinha, Vó!
Cadê você, Vó?
Cadê meu pote de sorvete, Vó?

III
Malditos peixes, cacete de leite:
Saudade de Vó.

Saudade de Vó.

Saudade de Vó.

Saudade,
Vó.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

poema sem nome (por enquanto)

Ah, aquela mania fofa!
Eu também, não se engane,
adoro um cantinho de unha.

O que mais gostei de sermos iguais nesse ponto,
você percebeu, foi a desculpa que tive para
pegar sua mão.
(coisa de filme, fiquei arrepiado)

E, depois, um almoço.
Quem sabe, o primeiro dos outros?
Quais e aonde serão? E você, toda aventureira
me guiando no caminho que nunca tinha visto!

Ai, ai é só o que digo.
O dia passei e ai, ai.
Estou indo ai, ai dormir.

Sabe, hoje penso que amar
é querer ser um alicate de cutícula.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

ter um filho é uma enorme responsabilidade

Assim é o mundo, filho.
Assim mesmo, como você vê.
Não espere que o papai te dê um dicionário:
minha vida passei fugindo deles.
Já disseram que dicionário é pai dos
bobos. Concordo: somente tolos querem definir.
Estão aqui, em você, todos os verbetes do ser.

Sinta, querido, tudo o que quiser sentir.
Só me faça o favor de
nunca sentir os sentimentos que os outros esperam.
Se quiser: ria-se da morte, não sofra de amor,
não busque ser feliz. Simplesmente seja,
meu filho. Derrube os limites que
outros esperam que você tenha, que sei mortos.

Fuja, amor, fuja longe, quando o atrevimento
perguntar quem é você. Seja o que é, não diminua.
Agora, filho, enquanto escreve, papai chora.
Talvez por não saber viver a vida que te deseja,
talvez por duvidar que um dia você aprenda.
De qualquer forma, entenda: é não tendo nada, e sendo tudo,
que o homem passa a viver. Antes, a existência

Não desperdice a vida pensando que a vida pode ser desperdiçada.
Simplesmente viva, meu filho.
E é só isso que pede seu pai.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

a hora da estrela

Cabelos eram poucos
naquela cabeça redonda.
Ficaram presos nos anos,
não puderam chegar aqui.
(amen)

As calças eram cinzas,
claramente puídas pelos mesmos anos dos cabelos.
Não pude ver a camisa.
O costume era vermelho,
saudoso dos tempos de bailes
de cores escandalosas.
(amen)

Sapatos? Ha, sapatos!
Quê importam os sapatos
na hora da morte?
(amen)

No fim da ponte da Loefgreen,
sozinho e parado, estava
este senhor.
(amen)

Esperava por algo, talvez.
Devia estar esperando pela amada,
claramente ficada nos anos dos cabelos e das calças e do costume.
(amen)

Finalmente, cansa-se de esperar:
olha pra lá,
olha pra cá - não vem nada -
atravessa.
(amen, amen)

De repente, o ônibus vira a esquina.
As pernas não aguentam a iminência do futuro.
(amen, amen, amen)

E tudo acaba num grande, estrondoso, assustador e cruel
PA.
(amen, não adianta mais)