terça-feira, 31 de agosto de 2010

Cotidiano 4

Há poemas que me aparecem: eu só fico com o trabalho de escrever.

Se você não fosse burro,
era inteligente.

É, isso mesmo. Eu
ficava no meio-termo.

(O poeta ri ao lado)

sábado, 28 de agosto de 2010

Estrofe, Antiestrofe e Épode / Há muito d'Eu na arte

Aulas de metacognição podiam ser tão mais bacanas... 

-Ah, seu puto! Como se atreve?
Para, para agora!
Não escreve o que eu 'tou falando!
Chega!

CHE-GA!

Por que você faz isso, seu cachorro? Já cansei
de ver você me vender que nem fruta estragada.
Ou você para ou eu te deixo. 'Tou falando sério!

-Olha, consciência, me desculpa

-AAAAAAAAAH! EU NÃO ACABEI DE FALAR!
E é muito bom que você não escreva em maiúscula pra que todos saibam que eu gritei.
Seu desgraçado, já escreveu, né? Cacete! Quero minha privacidade!

Você mudou, saco. Não é mais o mesmo...

(Silêncio)

-Posso?

-Ah, fala. Cansei já.

-Então, Dona Consciência... A Sra. me desculpe, mas é que eu
acho tão lindo o que a Sra fala...

Sim, mudei mesmo. Antes não percebia o quão bonito era tudo isso que você é...
Agora que reparei, não posso deixar de compartilhar tudo com o mundo.

Desculpa.

-...
Você me acha linda?

-Acho! Muito. Só não é mais linda do que as coisas sobre as quais pensa.

-É, eu penso coisas muito bonitas mesmo, né?

-Então! Todo mundo devia ter a oportunidade de ver isso, não?

-É, devia...

(Silêncio)

Tudo bem. Entendi. Aceitarei isso como um elogio. Pode continuar escrevendo.
Obrigada.

(Sorrindo, levanta levemente a saia, enquanto dobra os joelhos. Que nem naqueles filmes de antigamente)

(Risos)


Uma singela homenagem à amiga Lua Cris

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Enciclopédia

Há coisas que não entendo, nem quero.

"Melhor vida é a vida
Que dura sem medir-se."
Ricardo Reis

Dorme, criança. Dorme.
Agora é hora de dormir.

Do dia não nos sobra,
não nos resta,
não nos fica(!)
n  a   d    a.

Dorme, criança. Dorme.
Antes que durmas, brinca.

Brinca sem entender,
brinca até por brincar,
brinca por viver.
E sê.

Dorme, criança. Dorme.
A única certeza, dizem, é o sono.

Por que contas, culta (ignobil)
criança? Tua natureza fez-te
ao brincar, ao rolar, ao pular.
Pula, pela alegria dos santos!

Dorme, criança. Dorme.
A noite espreita, mesmo ao amanhecer.

Dormir é preciso. Mas não durmas procurando
a alegria no mapa, criança! Olha-te e, sem que penses,
sê feliz: ontem, antes que o hoje parta.
Para de procurar! Sê, sê rápido!

Criança dorme. O velho fechou os olhos
tristes. E todas choram.
E a alegria continua esperando:
quente;
viva;
prazerosa,
no fundo das crianças cultas (bestas).

Até, é claro, que durmam procurando.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Aluno

Minha professora faz perguntas meio estranhas...

Outro dia me fizeram uma pergunta muito atrevida:
Quem é você como aluno?

Respondi da melhor forma que pude:
Daniel Nascimento, registro acadêmico: 822.

Ah(!) se tivessem me perguntado quem eu era como pessoa
com interesses e vontades de saber...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

in ter ação

Homem parado ao lado da árvore,
observando plantas logo ali,
quê tão atencioso observas, homem?

Estás duro, parado, quase assustado.
As plantas são tão lindas, ou os olhos estão mortos
esperando o ritmo do pensar que corre?

Tens uma sacola aos pés. Por quê?
Quê diabos carregas escondido, e soltas ao chão
perto desta árvore, destas plantas, destes olhos e deste homem?

E eu? Será que há alguém a ver-me, questionando o porquê d'eu estar
a olhar-te? Será que questiona quê carrego na mochila? Será que indaga
sua beleza ou meu raciocínio?

Momento sublime de observações múltiplas.
Estamos todos parados, ainda que andemos, a olhar outra coisa.
É verdade, não nos enganemos, que estamos apenas olhando-nos a nós mesmos.

Como sempre, estamos olhando a humanidade
que carregamos por dentro.
Na planta, na árvore, na sacola, no homem, na mochila, no jovem, no andar.

In ter agimos, assim, homens que somos;
vemo-nos.
E somos.

domingo, 15 de agosto de 2010

E antes da vida, mãe, quê que tem?

"A vida é um grande labirinto cuja única saída é a entrada" - Eu mesmo, do alto de meus sete anos.

I
O engraçado da vida é que,
Quando vencemos seus desafios,
Estamos vencidos pela morte.

II
Melhor que o maior desafio?
Outro desafio maior ainda.
Ter o rumo certo, sem dificuldades,
É marchar ao próprio túmulo.


III
Existem pessoas que não estão prontas para andar por labirintos:
Pegam atalhos.
Suicídio.

IIII, porque eu quero assim.
Where should I go? There
Are so many walls around me!
What a joy is it not to know what
Awaits me(,) come the next corner.

sábado, 14 de agosto de 2010

Morada

Desculpe, mas minha casa é aqui.
Cá estão minhas paredes, abertas para mim. Quem penetra minha
fechadura?
EU:
É aqui que durmo.
É aqui que como.
É aqui que me banho.

Ah, você pergunta sobre meu lar? Não,
ainda não tenho forças para segurar as vigas de um. O meu ainda fica sob
sua saia. Ficará aí por mais algum tempo.
O tempo e a vida cuidarão de, um dia, fazer surgir
da lagoa
um Lar que eu possa sustentar com um outro alguém.

Por enquanto, mamãe, você segura a saia sobre minha cabeça; papai
segura você; eu apenas existo (realizando meu papel eterno),
segurando vocês dois.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Brincando

Da porta da igreja, a beata grita:

Menino, para de brincar e vem pra dentro.

Coitada: Essa vai pro inferno.

Deus não vê com bons olhos aqueles que atrapalham o brincar de infantes.

(Ao menos é assim que desacredito como seria um Deus.)

Acontecer

Nessas de ir escrevendo
sentimentos; momentos;
acontecimentos; falecimentos;
balas de mentos; eteceteramentos,

acho que vou aprendendo a
poematizar tudo da vida.
Mas, não sei. Talvez esteja só
(endu)vida(ndo) a poesia. E

isso seria bastante
des-po(ta)-ético de minha parte.

Ah, acontece(r)!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Debate Ideológico Sobre a Correta Grafia do Cu

ATENÇÃO: Este texto foi escrito com 5 medidas de bom-humor, 4 medidas de inadequação, 0.5 medida de tempo, e |-10| medidas de seriedade. Assim, aviso: se você não está acostumado com palavrões e concepções coprolálicas, pare por aqui.

Eu avisei!

_____________________________________________

Cu. É assim que a gramática manda, cu. Tem gente que acentua, cú. Tem gente que exclama, CU. Tem gente que tenta ser educada, ânus.

Pois eu digo que cu devia ser có. Talvez c°´. Em último caso, c||î||. Veja bem, tudo tem explicação: acho que os cós (assim grafados daqui pra frente) deveriam ser escritos com o. Claro! O có não é redondo, ó raios?
Não obstante, adiciono o acento. Claro, de novo. O có fica tão pertinho do assento, mas tão perto mesmo, que chega a ser uma estupidez não acentuar o bicho. Além disso, o có tem a função de expelir fezes, mas também pode ingerir as mais diversas coisas. Oras, usemos o sinal gráfico para demonstrar tal movimento! Do cu, ninguém vê nada saindo ou entrando. Já do có...

Mas se for para fazer a representação gráfica, talvez, a melhor grafia seja mesmo c||î||. Tá vendo? Tem as perninhas, a bunda, e algo ali por perto. Não dá pra saber se esse algo vai entrar ou se está saindo, mas está ali. E não importa se entra ou sai, já que fazer sexo anal é defecar em módulo. Então, fica no eles por eles. Inclusive, cabe o parênteses, o uso do i também colabora na sonoplastia da coisa toda. Mas isso é dos detalhes o menor.

Bom, encerro por aqui meu discurso. Fica, assim, publicada minha singela colaboração para o importante debate acerca da melhor forma de evolução da língua portuguesa, tendo em vista o avanço artístico e (anti-)concepcional da contemporaneidade.

Obrigado.

sábado, 7 de agosto de 2010

Já Que Deus Inventou Só O Dia E A Noite. (Faltas)

Física atômica, aviação;
Dinheiro, computação;
Automobilismo, (do petróleo) extração.

Tempo.

O homem não é bom em inventar coisas:
É excelente em perder o controle
Sobre as coisas que inventa.

D'onde vim, P'ronde sou.

É difícil saber quem ficamos
Entre homens que andam em círculos,
Entre círculos que sabem-se convexos,
Entre convexidades que malexistem:

Cá estou.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Relendo Quintana 2

Agora estou acompanhado de
um outro Senhor, este
bastante inadequado.

Ele fica passando a mão na minha nuca,
eu chacoalho pr'ele sair. Não sai.

Jogo água fria no meu rosto, parece que ele tem medo disso:
afasta-se. Logo volta.

Será que ele não percebe que está incomodando?
Já disse pra ele, à noite nos vemos, saco.
Mas ele quer ficar comigo agora. O bichinho chato!
Ah, não aguento mais: vou pescar.

...

5 minutos depois:

Opa! Quê que aconteceu?
-Ah, Senhor sono, deixe-me assistir esta aula em paz! 

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Pássaros (sobre o suicídio)

Desculpem-me os biólogos, mas
pássaros são homens. Ponto final.

Só ficamos diferentes quando
chega a puberdade. Explico:
    Os pássaros vão sentido uma coisa,
    um calor, um fogo!
    Aí eles percebem que tem asas
    e explodem à vida,
    felizes, felizes.

    Os homens vão sentido uma coisa,
    um calor, um fogo!
    Aí eles percebem que é hora de trabalhar,
    sustentar a família, e explodem a vida no muro,
    infelizes, infelizes.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Relendo Quintana

"Não há nada mais chato na vida
Do que um cachorro sem pulgas" 
- Mário Quintana

Hoje, de pouco em pouco,
Vejo-me acompanhado por este Senhor de
Modos polidos. É vestido de padre, e tem o semblante sereno.

Ele fala sobre tantas coisas!
Certas reuniões familiares, velórios,
Feriados chuvosos, passeios longos pelo trânsito de São Paulo.

Não vou mentir: estou querendo que este Senhor vá pra longe
De mim.
Fiz algo a este respeito.
-Excelentíssimo Senhor Tédio, por favor, dê-me licença. -Disse.
E continuei:
-Perdoe-me, mas, agora, vou escrever um poema. Voltamos a conversar depois que eu tiver acabado!

Cacete de Senhor chato...
Lá vou eu me encontrar com ele de novo...