quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sol


Continuando um hai-kai(sic) do genial Millôr Fernandes.

Quê me entristece? Saber que o
Sol nunca viu a noite, ainda que viva
No meio dela.

...

Não só a noite e a chuva desconhece o Sol.
O amarelo do nascer do dia, e o laranja do poente,
Nunca verá a estrela amiga.

...

No fim do dia, acho que o homem
é como um
Sol.

inverso oposto

Oras, não reclamem!
Agora todos podemos abastecer nossos carros com água
(do mar do Caribe).

segunda-feira, 12 de julho de 2010

dormir

O Sol já não corta as ruas
de São Paulo, há 8 horas.
É inverno, isso dá mais que meia-noite.

Por onde vejo, prédios dormem,
apagados. Mas há espanto! Uma luz
acorda.

...

Por quê?
O andar é ansioso esperando a volta do filho?
O correr é assustado pelo filho que está nascendo?
O pai morreu?
O sexo acabou, hora do lanchinho?
O insone denuncia a loucura da rotina?
O festejar cansou, hora de cama?
Não sei, mas questiono.

E a luz ao lado, que ainda dorme?
Se sonha, sonha como?
Se não sonha, por quê espera?
Se há vida, como pode a luz dormir?
Se não dorme, será que está morta?
Não sei, mas indago.

E a noite corre.
E a imaginação corre.
E histórias são narradas na escuridão iluminada do sono dos prédios.

...

Há tanta poesia na noite de São Paulo,
mas tanta mesmo, que nem adianta tentar
escrever mais sobre isso. Quanto mais buscar,
menos terei feito.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Vem

Vem, meu bem, vem pra cama.
Vem dançar um tango (ou um jazz) estático.
Vem esquentar meu leitinho.
Vem ser minha hora de dormir.

Sejamos nossos, em um momento sem posses.
Sejamos felizes, na vida e na morte.
Sejamos doces, agora, no instante.
Sejamos fracos, se assim quisermos.

Bebamos o sangue de nossas vidas.
Comamos a carne de nosso ser.
Comunguemos o existir(,) antes(,) que(,) não(,) mais.
Façamos um caldo de gente: entrega-lo-emos ao mundo.
Vivamos o pouco que pudermos ser.

E sorriremos.
E seremos.
E nada mais importará. (Pra quem? Não sei: não me importo)

    Isso é viver.
    Isso é amar.