quarta-feira, 31 de março de 2010

Alberto Knox

Ensaiamos uma peça,
um romance cavalheiresco.
A mocinha se inclinou,
e no mocinho deu um beijo.

Num quarto com cara de sexto,
o dia passei a procurar.
Ela disse que me encontraria,
antes que fosse embarcar.
Não encontrou-me, parti.
Parti para na segunda voltar.
Por favor, não mais vacile,
venha logo e me alcance:
o mocinho quer namorar.

Será tão dificil entender
que, às vezes, precisamos ir,
ao invés de esperar chegar?

terça-feira, 30 de março de 2010

Cotidiano Virtual

E seu bumbum,
doendo do monociclo?
hahaha

Não exatamente o bumbum
-só minha vó fala bumbum, mas tudo bem -
Mas, sim, estou com dor.
Tem que se odiar um pouquinho pra ser homem e subir no monociclo...

Sei.
Mas... você fala como?
Glúteos? 

Não. É bunda mesmo.
Prazer!
hahaha

Ah, ok. 
Prazer.
hahaha

quinta-feira, 25 de março de 2010

Meu Amor


Hoje, 25 de Março de 2010 , 
foi assinado o atestado de óbito 
de Marie Helene de Raeffray Blanco, minha avó.
Sofria de Alzheimer, e eu já a tinha como morta
há, pelo menos, 5 anos, quando começou
a ter sérios lapsos de memória.
Suas últimas expressões que testemunhei,
há cerca de 6 meses, foram
"meu amor". Repetidas vezes.
“meu amor”
Dói,
“meu amor”.
A menina mais linda do Brasil,
“meu amor”.
Machuca,
“meu amor”.
Ver meu amor preso,
“meu amor”,
está preso no corpo vivo.
Vivo sem a vida do meu amor.

E meu amor
nem sabe quem ama:
não lembra do amor,
“meu amor”.
Morreu.
Esqueceu até de aceitar isso.

Não lembra mais de mim?
“meu amor”
Não lembra de seu marido?
“meu amor”
Suas filhas, que tão bem te querem,
“meu amor”?
Não lembra?
“meu amor”

Dói, dói muito,
ser o seu amor inerte, dúbio, estranho.
Me odeie,
“meu amor”.
Não ia doer tanto
saber ser odiado de verdade.

Só peço que um dia saiba,
“meu amor”,
do amor que lhe tivemos,
“meu amor”.
Que não tenha sido em vão
o sofrer apaixonado.
Que não seja esquecido
o amor talvez sabido.
Que tenha sido sentido
o Natal que morreu ao seu lado.
Papai Noel? Traga minha vó...
Fique com este,
que já não pertence.

"meu amor"
As madrugadas acordadas,
"meu amor",
que sempre escuto e não entendo.
Por quê, meu amor, por quê?
"meu amor"
Assim fomos feitos,
"meu amor",
nascemos; vivemos; morremos; esquecemos.
"meu amor",
repare: você errou a ordem.

Certa vez,
"meu amor",
você me agradeceu:
"meu amor... obrigado,
obrigado,
obrigado".
De nada, meu amor.
De nada.
Agora, vá,
"meu amor",
já é tarde:
durma bem.

Meu amor,
Te amo.

Poema escrito em 29 de Dezembro de 2009,
Só publicado hoje em respeito à família.

quarta-feira, 24 de março de 2010

De Pêssego, Por Favor.

eis que, num país
com tantas pizzas amargas
e tanta fome rodando no forno,
aparece o pêssego em suco.

Em SUCO, meus Deus!
um pêssego, em suco...
A maçã eu até aceito, mas
o pêssego! já é muito.

Só falta agora que alguém
faça uma fruta de laranja...
Aí o absurdo será fatal.

sobre os Olhos da mulher amada

Porque o amor anarquista
não conhece barreiras,
mas conhece o amor por amar:

Não precisa ser recíproco,
Não precisa ser de posse,
Não precisa ser eterno,
Não pode ser adjetivado.

Por isso escrevo dos olhos
que dizem Olá!
(E que são poliglotas)
Porque eles me tomam;
me levam; me deliciam;
quase me prendem,
não se atrevem.

Como olham fundos
esses olhos verdes,
sempre pequenos pela luz
e gigantes pela vida.

Como gritam os meus olhos
ao vê-los, os olhos que chamam Olá!

Ó lá, amor. Ó lá com
essa imensidão que tens
como lentes.
Ó lá, como amo seus olhos
na metonímia do amar.
Ó lá, Olá!

(Agora, em inglês)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Cotidiano 2

Ô moço, esse
aqui é 16 real, né?

Isso...
(Olha a plaquinha)
Dezesseis reais e cinquenta e nove centavos.

Ah...
(Continua analisando)
E aqui tem 12
latinhas, né?

(Conta: três colunas, quatro fileiras)
É, são doze.

Tá baum, então.
(Sai de cena)
[Enche a cara]
{Espanca a mulher}

Fim.

sábado, 13 de março de 2010

Aconteceu

Passei a noite entre pesadelos,
chorando a frustração romântica
maior da minha vida.
Ela não é quem eu pensava.
Ela mente, engana, "acontece",
eu choro.


E pensar que estava prestes
a chamá-la para passar 
o resto da vida ao meu lado...
Nisso, pelo menos,
me foi simpático o destino:
mostrou-se em tempo.


Não quero mais falar
sobre este assunto.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sem Antíteses Nem Paradoxos

Contra o erótico
e contra o pornô,
homens, saquem seus pênis;
mulheres, balancem seus peitos.

Contra o depravamento
e contra a pouca vergonha,
todos, masturbem-se
todos, mas juntos e em praça pública.

Contra a má-educação
e contra a falta de classe,
vão todos à merda,
ou ao caralho que te parta.

Pela vida leve
e pela alegria,
sejam felizes:
Derrubem máscaras,
(mostrem quem são)
Derrubem espelhos,
(olhem com carinho para o próximo)
Derrubem preconceitos,
(e também os conceitos)
Derrubem adjetivos,
(os de comparação)
Derrubem substantivos,
(especialmente o puta)
Derrubem tiranos,
(comecem pelo maior, derrubem Deus)
Derrubem tudo.
Amem

segunda-feira, 1 de março de 2010

Pensamentos Infantis

I - Sobre a bunda.
Ô mãe!
Cocô é sujo?

É filho, por quê?

Então tem que lavar a mão
quando pega nele, né?

É filho, mas não pega não.

...

Ô mãe!
Se quando a mão tá suja a gente lava,
por que é que a bunda a gente
limpa?

Porque...

É, sei lá, num é o que a bunda faz?
Passa o dia segurando cocô?

II - Sobre o tempo.
Ô mãe!
O relógio gira
ainda, ou de novo?

De novo, filho.

Mas então, por que é
que hoje sempre é hoje?
O hoje de hoje é diferente
do hoje de ontem?

(Como é que é?)
É filho, sei lá!

...

Ô mãe!
Se o hoje é sempre hoje,
quando é o amanhã?

Depois do meio da noite, filho.

Mas aí não é hoje?
Hoje de novo, ou hoje ainda?
Ai, mãe! Eu não tô entendendo
nada!

(E eu então, cacete)

....

III - Sobre a beleza de ser criança.
Ô mãe!
Posso ir jogar videogame?

Pode, filho.

Brigado, mã. Te amo.

(Eu é que agradeço!)